“Conheço a residência da dor. É um lugar afastado, sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas. Com umas imensas vigílias, diante do céu. A dor não tem nome, não se chama, não atende. Ela mesma é solidão: nada mostra, nada pede, não precisa. Vem quando quer. O rosto da dor está voltado sobre um espelho, mas não é rosto de corpo, nem o seu espelho é do mundo. Conheço pessoalmente a dor. A sua residência, longe, em caminhos inesperados. Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores. E ouço dizer: “Quem visse, como vês, a dor, já não sofria”. E olho para ela, imensamente. Conheço há muito tempo a dor. Conheço-a de perto. Pessoalmente.”
- Cecília Meireles.
- Cecília Meireles.
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