“Quinhentos e sessenta e cinco dias. E eu não consegui escrever nenhuma palavra sobre você. Tentei, diversas vezes eu tentei, nem que fosse para te escrever uma palavra qualquer. Não saiu nada. Zero. Branco. Nunca consegui entender esse fenômeno. Porque tudo o que eu não soube dizer, meus textos falaram por mim. Chega a ser engraçado, pois de todas as histórias que vivi, as mais bonitas foram com você. De todos os meus relacionamentos meia-boca, você foi a única boca completa. Lembro quando te conheci, você estava se lamentando nas tuas redes sociais sobre o quanto o homem que tu amava não te dava a mínima. E mesmo assim, você continuava se importando. E eu sempre vi você ali, no teu cantinho. Nos seus momentos de desabafo. Mas aquela foi a primeira vez que eu decidi falar com você, do nada. Só pra dizer “eu não sei o porque você está triste assim, mas eu adoro os momentos que você sorri.”. E dali em diante, nos tornamos amigos. E a gente não precisava se falar o tempo todo pra saber que um se importava com o outro, porque nos dias difíceis, era no som das nossas risadas que tudo se ajeitava. Às vezes ficávamos meses sem se falar, só que isso não importava. Porque a gente tinha uma coisa chamada amor pronto-socorro: sempre que alguém nos quebrava, um corria para o curativo do outro. Morávamos em estados e cidades diferentes, mas nos sentíamos tão próximos. Você dizia que odiava falar no telefone porque nunca sabia o que dizer. Uma vez eu te liguei contra a sua vontade, só para ouvir a sua voz. E você não ficou quieta por nada. Mas eu gostei porque a sua voz era doce e eu nem sabia que vozes podiam ser provadas. Chegou um dia que nos afastamos por um longo período de tempo. E quando eu estava passando as férias em outra cidade com uma namorada muito da ciumenta possessiva. Você me mandou uma mensagem dizendo “estou na sua cidade, vem me ver”, e eu não tive coragem de responder porque eu teria grandes problemas. Porém, no fundo, eu só queria largar todo aquele relacionamento vazio e voltar correndo para me encher de você. Depois que mais um relacionamento fracassado se concretizou, ainda assim, não conseguia te mandar uma mensagem. Porque me sentia um verdadeiro covarde. E infelizmente, eu era. Quase consegui seguir em frente fingindo que você não existia, quase consegui me convencer que as coisas acontecem da forma que devem acontecer, quase consegui me desapegar de você. Aí meu celular vibra, é uma mensagem sua: “Ainda lembra de mim?”, um sorriso escapou, “Como eu poderia esquecer?“. Quando você reapareceu na minha vida, mais uma vez, as coisas não eram como antes. Não existiam mais homens te fazendo se sentir uma meia mulher. E não existiam mulheres fazendo eu me sentir um meio homem. Pela primeira vez, nós estávamos livres das nossas prisões. E, tão naturalmente quanto o canto dos pássaros, a gente se amou. Sendo sincero, lutei para me convencer que não amava você. Para não admitir a mim mesmo que a mulher que eu mais amei estaria a quilômetros de distância do meu amor. Em um certo momento expliquei toda a situação a um grande amigo e ele me disse “Você a ama?”, “Sim, eu a amo”, “Então o que está esperando?”. Comprei a primeira passagem de avião que pude e fui te ver. Não podia mais negar o inegável. Você mostrou para mim o gosto do amar e se tornou meu prato predileto. Você foi a única pessoa que olhou para mim e não precisou dizer que me amava. Seus olhos te entregavam. Foi a mulher mais linda que segurou a minha mão, mesmo depois de um dia cansativo de trabalho. Todos os dias, eu perguntava o porque você estava comigo, afinal? E eu nunca precisei das respostas, porque o seu sorriso dizia tudo. Você aguentou até mesmo o meu sério problema com a memória, pois eu consigo esquecer de tudo facilmente. Datas, lugares, pessoas. Você fez eu aprender que um relacionamento não depende apenas do casal, mas de sua fé. Não somente fé no amor, mas na vida. As pessoas nos olhavam e viam o amor. Eu via o amor em nós. O amor se alimentou de nós. Você foi a primeira mulher que fez eu quebrar os meus limites. A primeira que eu quis jurar votos e dar o meu sobrenome. Dentre todas, você foi a primeira que eu realmente acreditei no para sempre. E em toda a minha vida, essa foi a vez que eu mais quis estar certo. Eu quis entrar em acordo com o destino. E sabe qual o problema? O destino não aceita acordos, propinas, subornos. É o que tem de ser e acabou. Simplesmente um dia, o fatídico dia, você me liga com a voz firme e diz que precisa falar algo importante. Eu gelei meu peito como se estivesse no Alasca. E você solta “Eu não sei o que aconteceu ou como aconteceu, mas eu não te amo mais como antes.”. E naquele momento, eu percebi que você pode morrer por alguns instantes, mesmo estando aparentemente vivo. Naquela noite, descobri que é possível chorar todos os 70% de água que possuímos no nosso organismo. Na manhã seguinte, reuni o pouco da energia que me restava para te ligar e dizer “Olha, estou cancelando as passagens que comprei para te ver nesse mês. Iria ser surpresa, mas na verdade, eu é quem fui surpreendido. Obrigado por tudo, adeus.”. Seus soluços de choro foram interrompidos pelo termino da ligação. Aquela foi a última vez que ouvi sua voz. E desde então, eu nunca consegui escrever sobre você. Sobre nós. Até agora, até esse exato momento. Semana passada eu soube que você está noiva e, que em breve, vai se casar. E eu não sinto raiva, ciúmes, inveja. Nada disso. Ao contrário, desejo que seja feliz. Quero que você encontre o que não encontrou comigo. Eu nunca quis escrever sobre você porque normalmente escrevo sobre tudo o que teve fim. E o meu interior nunca quis admitir o nosso final. Eu sempre te disse que tinha facilidade em perder as memórias, deixar que as coisas caiam no esquecimento e, acredite, eu não posso permitir que isso aconteça com nós. Então decidi escrever sobre você essa noite, porque finalmente eu entendi que as minhas palavras não significam o fim de tudo. Na verdade, elas são tão poderosas que podem eternizar a nossa história para sempre.”
- Allax Garcia.
via @notiun
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