“Eu fui. Eu fui a chama devastando-me. Fui a água inundado-me. Fui o desejo consumindo-me. Fui a névoa esgueirando-me. Fui o veneno torturando-me. Fui a cobra serpeteando-me. Fui o homem seduzindo-me. Fui a mulher enloquecendo-me. Fui o fascista deturpando-me. Fui o lagarto assustando-me. Fui o morcego devorando-me. Fui a fruta amaciando-me. Fui o trem esfumaçando-me. Fui o largo da praça brincando-me. Fui o café com leite alimentado-me. Fui o sangue nutrindo-me. Fui o mendigo pedindo-me e perdendo-me. Cuia na mão, uma flanela na cintura e alguma água de esgoto dentro da garrafa PET para limpar vidros e vidraças que passam-me e embaçam-me. Vejo as pessoas consumindo-se em um cigarro, em uma mesa de bar. Tomando das mãos de um escravizado todo e qualquer pão que chegue à sua bora. Todas as pessoas foram, mas elas acordam sem perceber que agora são. O presente é sempre um amigo. O passado um conselheiro e o futuro é sempre um transeunte.”
- Theu Souza
- Theu Souza
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