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segunda-feira, setembro 07, 2020

⁠⁠O Senhor -  Certo dia,  enquanto eu estava no s... Sílvio Fagno

⁠⁠O Senhor -  Certo dia,  enquanto eu estava no sofá  de casa,  com aquela velha angústia  das minhas manhãs, vi pelo portão um senhor parado  na rua em frente. Percebi que estava perdido,  pelos movimentos repetitivos  da cabeça — que ficava de um lado  para o outro, à procura de algo. Logo  notei que era um senhor  conhecido,  inclusive por  mim,  que já o vira outras  tantas vezes  por aí,  e, assim como a maioria,  eu sabia que se tratava de  um pobre dependente  de álcool (ignorado como  tantos ignorados),  precisando de ajuda desde  sempre na vida. Então eu desci e fui até ele. — O que deseja? — perguntei-lhe. — Ir para minha casa. — respondeu-me. — Onde o senhor mora? — questionei-lhe, mais uma vez. E após ele dizer o nome do bairro,  eu o instrui para que,  dessa vez,  pudesse pegar o caminho  correto até sua casa. Chamei-lhe e disse: Olha,  o senhor vai direto,  e na primeira esquina  vira à esquerda até  chegar à avenida  principal — apontando-lhe  o sentido com um dos braços. Ele,  que havia perdido um dos  pés das sandálias,  assim o fez. E enquanto ele seguia,  meio cambaleando,  lentamente seu  destino, eu voltei para minha  casa, para minha vida,  minhas angústias  diárias.  Minutos depois,  outra vez sentado no  sofá da sala,  agora com uma xícara  de café na mão,  para minha surpresa   (como num déjà vu),  me aparece o mesmo senhor,  no mesmo local, fazendo os  mesmos gestos. Por um instante,  pensei em descer e, outra vez  ajudá-lo. Mas percebi que,  independentemente do  quanto demorara,  ele já havia entendido a vida  e seus labirintos íngremes e esburacados — mais cedo  ou mais tarde, no seu tempo,  tomaria o caminho de volta  até sua casa — como o  fizera tanta e tantas  vezes. Eu é que nada sabia  da vida,  além da porta  de casa,  e era, de fato, quem  mais estava  perdido.

via @notiun

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