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quinta-feira, janeiro 23, 2020

Saiu catando flores para entregar a ela. Saiu cont... Tiago Fehagan

Saiu catando flores para entregar a ela. Saiu contando os passos até não saber mais contar. Era mês de florescer e colorir as ruas de ipê, de celebrar a paz em meio a rumores de guerra. O pequeno ser está a anos-luz de sua janela, conhecendo o mundo através dos olhos dela. Temendo os perigos da noite e a rebeldia do vento [em companhia], usando de sua pureza para manchar a tela. É o menino artista com alma de gafanhoto, que colore as nuvens, e retira as asas para não bagunçar a casa. É o poeta de chuveiro brincando de fazer chuva, fazendo de meras gotas notas musicais. É o coração meloso com palavras afáveis, que grita por se sentir livre e chora por fragilidade. É o pingo de gente que desabrocha em amor e que sempre corre atrás do sol com uma câmera na mão. É o ator mirim que contracena com trufas e dinossauros, ao vestir-se da mais ingênua fantasia. É a alegria serelepe com uma mochila nas costas e com um milhão de sonhos guardados no bolso. E assim ele caminha pelas avenidas da vida, entre o lamaçal das ruas e as roupas dos varais, acampando em quintais e em varandas gourmet, pulando sobre o sofá de canto, até debulhar-se em pranto. E vai deitar-se cansado, queixando-se das suas dores, mas ainda batalhando contra o sono. E dorme falando sozinho e sorrindo, encarnando um herói menino que salva dos homens os animais.

via @notiun

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