O mundo não é feito de pessoas, nem de casas, nem de coisas. O mundo é feito com palavras perfiladas como pedras sobre pedra e em cima de outra pedra, ainda. São de palavras de pedra, as paredes do mundo: direitas e exactas como um fio de prumo. Se nos tiram a língua, as várias línguas que tem a nossa língua: esta língua com que te falo, a língua com que te beijo, esta mesma língua com que digo esse nome que tu és, roubam-nos mais mundo ao nosso mundo. E um mundo rente, sem paredes, raso ao chão, que não se tenha de pé e num pé direito tão alto que lhe caibam todas as palavras empilhadas é um mundo do reverso e do regresso em que ao privilégio absurdo de viver se segue o direito adquirido de sofrer.
via @notiun
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