“Súbito me encantou. A moça em contraluz. Arrisquei perguntar: quem és? Mas fraquejou a voz. Sem jeito eu lhe pegava as mãos, como quem desatasse um nó, soprei seu rosto sem pensar e o rosto se desfez em pó. Por encanto voltou, cantando a meia voz. Súbito perguntei: quem és? Mas oscilou a luz. Fugia devagar de mim e quando a segurei, gemeu. O seu vestido se partiu e o rosto já não era o seu. Há de haver algum lugar, um confuso casarão, onde os sonhos serão reais e a vida não. Por ali reinaria meu bem, com seus risos, seus ais, sua tez e uma cama onde à noite, sonhasse comigo, talvez. Um lugar deve existir. Uma espécie de bazar, onde os sonhos extraviados vão parar, entre escadas que fogem dos pés e relógios que rodam pra trás. Se eu pudesse encontrar meu amor, não voltava jamais.”
- Chico Buarque.
- Chico Buarque.
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