“Quando já se passa por muita coisa ruim na vida, cada dor adicional acaba sendo, a um só tempo, insuportável e insignificante. A minha vida é como um memento mori pintado por algum artista europeu: há sempre uma caveira sorridente ao meu lado para me lembrar que a ambição humana é uma bobagem. Debocho dessa caveira. Olho para ela, dizendo: ‘Você pegou o cara errado. Pode não acreditar na vida, mas eu não acredito na morte. Vá embora!’ A caveira dá uma risadinha e chega ainda mais perto de mim, o que não me espanta. Se a morte anda tão grudada à vida não é por uma necessidade biológica — é por ciúme. A vida é tão linda que a morte se apaixonou por ela, e é um amor ciumento, possessivo, que tenta controlar o que pode. Mas a vida escapa a esse controle com a maior facilidade, perdendo apenas uma coisinha ou outra sem grande importância e, para ela, a tristeza nada mais é que a sombra passageira de uma nuvem.”
- As Aventuras de Pi.
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